O NOVO SISTEMA ACUSATÓRIO BRASILEIRO
Resumo
THE NEW BRAZILIAN ACCUSATORY SYSTEM
ÁREA(S): Direito constitucional; direito processual penal; direito público; direitos humanos; direito comparado.
RESUMO: O Brasil não possuía um sistema acusatório puro, mas sim um sistema acusatório impuro ou misto, em que a função julgar se confundia, algumas vezes, com a investigação do fato delituoso. O legislador, de maneira muito apropriada, resolveu dar um basta em uma situação por demais criticada pela maioria da doutrina e parte da jurisprudência. Já não existe a figura do juiz proativo, que enfeixa em suas funções a tarefa de investigar e julgar, encerra resquícios do processo inquisitivo e determinando de ofício a produção da prova e dos expedientes na fase da persecutio criminis. Desapareceu, com efeito, o art. 3º-A do CPP, que declara que o processo penal terá estrutura acusatória, sendo vedada a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. Com o advento da Lei nº 13.964/2019, desapareceu a figura do juiz investigador e produtor de provas, dando margem a uma magistratura mais independente e imparcial. O presente ensaio sob relação visa a traçar breves contornos do processo acusatório em geral e da reforma processual, em busca do sistema acusatório puro.
ABSTRACT: Brazil did not contemplate a pure accusatory system, but an impure or mixed accusatory system in which the judging function was sometimes confused with the investigation of the criminal act. The legislator very appropriately decided to put an end to a situation that was overly criticized. by most of the doctrine and part of the jurisprudence. The figure of the proactive judge who embodies the task of investigating and judging, contains traces of the inquisitive process and officially determines the production of evidence and files during the persecutio criminis phase. It has disappeared. who declares that the criminal proceeding will have an accusatory structure, the initiative of the judge in the investigation phase and the substitution of the probationary role of the prosecuting body being prohibited. With the advent of Law 13964/2019, the figure of the investigating judge and evidence producer disappeared, giving rise to a more independent and impartial judiciary. The present study aims to outline brief outlines of the accusatory process in general and the procedural reform in search of the pure accusatory system.
PALAVRAS-CHAVE: Sistemas; sistema acusatório; contraditório; igualdade de armas; juiz de garantias; procedimento investigatório criminal; publicidade; Ministério Público; sigilo-requerimento.
KEYWORDS: Systems; accusatory system; contradictory; equal weapons; guarantee judge; criminal investigative procedure; advertising; Public Prosecutor’s Office; secrecy-requirement.
SUMÁRIO: Introdução; 1 Do sistema acusatório; 2 Do sistema acusatório no direito comparado; 3 A igualdade de armas como postulado do sistema acusatório; 4 Distinção entre o princípio do contraditório e a paridade de armas; 5 A inércia do juiz como postulado do processo acusatório; 6 Processo acusatório e iniciativa probatória do juiz; 7 O juiz imparcial como corolário do processo acusatório; 8 Do juiz de garantias; 9 Impossibilidade do juiz em colher a prova e decretar a prisão provisória ex officio; 10 O requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral; 11 Decisão sobre os requerimentos de interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras formas de comunicação; 12 Decisão sobre os requerimentos de afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico; 13 Decisão sobre os requerimentos de afastamento da busca e apreensão domiciliar; 14 Decisão sobre os requerimentos de acesso a informações sigilosas; 15 Decisão sobre outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado; Conclusão; Referências.
SUMMARY: Introduction; 1 The accusatory system; 2 The accusatory system in comparative law; 3 Equality of arms as a postulate of the accusatory system; 4 Distinction between the contradictory principle and arms parity; 5 The Judge’s inertia of the accusatory process; 6 Accusatory process and evidentiary initiative of the judge; 7 The impartial judge as a corollary of the accusatory process; 8 The Guarantee Judge; 9 Impossibility of the judge to collect the evidence and decree provisional arrest ex officio; 10 The request for advance production of evidence considered urgent and non-repeatable, ensuring the adversary and the wide defense in public and oral hearing; 11 Decision on the requirements for telephone interception, the flow of communications in computer and telematics systems or other forms of communication; 12 Decision on the requirements for removing tax, banking, data and telephone confidentiality; 13 Decision on requirements for removal from home search and seizure; 14 Decision on requirements for access to confidential information; 15 Decision on other means of obtaining evidence that restrict fundamental rights of the person under investigation; Conclusion; References.
Referências
AMBOS, Kai. Processo penal europeu. Preservação das garantias e direitos individuais (princípios processuais e análise da Convenção Europeia de Direitos Humanos). Trad. Marcellus Polastri Lima. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
ANDRADE, Manuel. Noções elementares (sic) de processo civil. Nova edição revista com a colaboração de Antunes Varela. Coimbra, I, 1963.
ARAÚJO, Nádia de; ALMEIDA, E. Ricardo. O Tribunal do Júri nos Estados Unidos. Revista Brasileira de Ciências Criminais, a. 4, n. 15, jul./set. 1995.
ATAÍDE, Fábio. Colisão entre o poder punitivo do Estado e garantia constitucional da defesa. Curitiba: Juruá, 2010.
BARROS, Francisco Dirceu. Direito processual penal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
BASTOS, Marcelo Lessa. Processo penal e gestão da prova: a questão da iniciativa instrutória do juiz em face do sistema acusatório e da natureza da ação penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
COLOMER, Jean-Luis Gòmez. La instruccion del proceso penal en España y los derechos del imputado. RBCCRIM, São Paulo: RT, n. 34, 2000.
FAIRCHILD, Erika S. Comparative criminal justice systems. California: Wadsworth Publishing Company, 2005.
FRAGA, Carlos Alberto Conde da Silva. Subsídios para indepedência dos juizes. O caso português. Lisboa: Edição Cosmos, 2002.
GOMES, Luiz Flávio; MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Comentários à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica). 3. ed. São Paulo: RT, 2009.
GONÇALVES, Fernando; ALVES, Manuel João. A prisão preventiva e as restantes medidas de coacção. A providência do habeas corpus em virtude de prisão ilegal. Coimbra: Almedina, 2003.
KROPPEN, Peter J. Van; PENROD, Steven D. Adversarial versus inquisitorial justice. Psychological perspectives on criminal justice systems. New York: Plenum Publisher, 2002.
LIMA, José Farah Lopes de Lima. Convenção Europeia de Direitos Humanos. São Paulo: Mizuno, 1987.
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal. Salvador: JusPodivm, volume único, 2016.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
LOPES, José Mouraz. A tutela da imparcialidade endoprocessual no processo penal português. Coimbra: Coimbra, 2005.
MACDONALD, William Frank [Hrsg.]: The Prosecutor ed. Beverly Hills [u.a.]: Sage Publ., 1979. 279 S. (Sage criminal Justice System Annuals; 11), 1979.
MECONE, M. Diritto processuale penale. Napole: Simone, 2010.
NEVES, Castanheira. O instituto dos “assentos” e a função jurídica dos Supremos Tribunais. RLJ, 105 1972-1973 181. V.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 2. ed. São Paulo: RT, 2007.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
PIMENTA, Jose da Costa. Processo penal. Sistemas e princípios. Lisboa: Petrony, t. I, 2003.
PRADO, Geraldo. O sistema acusatório: a conformidade constitucional das leis processuais penais. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
ROXIN, Claus. Derecho procesal penal alemán. Buenos Aires: Del Puerto, 2007.
SANTOS, Fernando Ferreira. Direitos fundamentais e democracias. O debate Habermas – Alexy. Curitiba: Juruá, 2008.
SILVA, Germano Marques da. Curso de processo penal. Lisboa: Editorial Verbo, t. V, 2002.
SILVA, José Geraldo; LAVORENTI, Wilson; GENOFRE, Fabiano. Leis penais especiais anotadas. São Paulo: Millennium, 2004.
SOARES, Guido Fernando Silva. Common law: introdução ao Direito dos EUA. 2. ed. São Paulo: RT, 2000.
TORNAGHI, Hélio Bastos. Instituições de direito processual penal. São Paulo: Saraiva, v. 1, 1996.
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Processo penal. Coimbra: Almedina, t. I, 2002.
VERNY, Èdouard. Cours. Paris: Daloz, 2003.
VV.AA. Prova criminal e direito de defesa. Estudos sobre a teoria da prova e garantias da defesa em processo penal. Sob a coordenação de Tereza Bizarro Beleza e Frederico de Lacerda da Costa Pinto. Coimbra: Almedina, 2010.
WARDIUS V. OREGON, 412 U.S. 470, 474, 93 SCt. 2208, 2211, 37 L. Ed2d 82 (1973).
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado simultaneamente sob uma Licença Creative Commons Attribution [6 meses] após a publicação, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) somente seis meses após a efetiva publicação na Revista, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).