O DIREITO AO CONHECIMENTO DA ASCENDÊNCIA BIOLÓGICA

O DIREITO AO CONHECIMENTO DA ASCENDÊNCIA BIOLÓGICA

Autores

  • Rosana Broglio Garbin

Resumo

THE RIGHT TO KNOWLEDGE OF BIOLOGICAL ANCESTRY

RESUMO: A identidade genética do ser humano compreende todas as informações biológicas possíveis de serem conhecidas. A vertente que liga a genética à verdade biológica inclui o direito ao conhecimento da ascendência, que fornece dados importantes para o desenvolvimento da personalidade do indivíduo. Esse direito encontra-se garantido na medida em que se reconhece a importância dos direitos de personalidade decorrentes da dignidade intrínseca do ser humano. Esbarra, todavia, em direitos outros, em geral com o mesmo patamar de importância, como o direito à intimidade, exigindo as devidas ponderações. Há, ainda, pontos referentes à relação pais/filhos, no que concerne à investigação de paternidade, adoção e procriação medicamente assistida, que exigem análise específica. Deve-se distinguir o direito ao estado de filiação do direito ao conhecimento das origens genéticas – o que evitaria intervenções ou repercussões indesejadas quando perquirida a parentalidade biológica –, de forma a assegurar o direito ao conhecimento da ascendência biológica e garantir a segurança das relações parentais já formadas. Novos conhecimentos adquiridos na área médica, psicológica e jurídica impõem o reconhecimento de novos direitos. 

PALAVRAS-CHAVE: Direitos fundamentais; direitos de personalidade; identidade genética; ascendência biológica. 

ABSTRACT: The genetic identity of human beings includes all biological information likely to be known. The strand that links genetics to biological truth includes the right to knowledge of ancestry, which provides important data for the development of the personality of the individual. This right is guaranteed in that it recognizes the importance of personal rights arising from the intrinsic dignity of human beings. However, such right often collides with other rights of the same level of importance such as the right to privacy, thus requiring the appropriate weights. There are also aspects of the relation between parents/children, concerning the investigation of paternity, adoption and assisted reproduction, which require specific analysis. One must distinguish the right to filiation from the right to knowledge of genetic origins to avoid unwanted interventions or consequences when biological parenthood is pursued and also to ensure the right to knowledge of biological ancestry and the safety of parental relationships that have already been formed. Furthermore, new knowledge in the medical, psychological and legal areas requires the recognition of new rights.

KEYWORDS: Fundamental rights; personality rights; genetic identity; biological ancestry. 

SUMÁRIO: Introdução; 1 Dignidade, direitos fundamentais e direitos de personalidade; 2 Identidade pessoal, identidade genética e origem genética; 3 O conhecimento da ascendência biológica; 4 Incidência no regime jurídico da filiação; Considerações finais; Referências. 

SUMMARY: Introduction; 1 Dignity, fundamental rights and rights of personality; 2 Personal identity, genetic identity and genetic origin; 3 Knowledge of biological ancestry; 4 Incidence on the legal regime of filiation; Final considerations; References.

Referências

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

ALMEIDA, Maria Christina de. DNA e estado de filiação à luz da dignidade humana. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

ANJOS, Mário Fabri dos. Ética e clonagem humana na questão dos paradigmas. In: PESSINI, Léo; BARCHIFONTAINE, Chistian de Paul (Org.). Fundamentos da bioética. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2005.

ASCENSÃO, José de Oliveira. A Lei nº 32/2006 sobre procriação medicamente assistida. Revista de Direito Público, Lisboa, n. 1, 2009.

BARBAS, Stela Marcos de Almeida Neves. Direito ao patrimônio genético. Coimbra: Livraria Almedina, 1998.

BENEVIDES FILHO, Mauricio. Direito à intimidade e o processo de investigação de paternidade: direito à recusa ao exame hematológico. In: GUERRA FILHO, Willis Santiago Guerra Filho (Coord.). Dos direitos humanos aos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.

BOSCOV, Isabela. A depressão é o fim do mundo. Veja, São Paulo: Abril, Edição 2233, a. 44, n. 36, p. 17.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 127.541/RS, 3ª T. - Disponível em: www.stj.jus.br. Acesso em: 6 jan. 2011

CALLE, Esther Gómez. El derecho civil ante las nuevas técnicas de investigación genética. En particular, las pruebas de detección genética. In: Derecho y genética: um reto de la sociedad del siglo XXI. Madrid, 2006.

CUNHA, Karla Corrêa; FERREIRA, Adriana Moraes. Reprodução humana assistida: direito à identidade genética x direito ao anonimato do doador. Dez./2008. Disponível em: www.lfg.com.br. Acesso em: 10 set. 2011.

FRANÇA. Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. 1º de abril de 2010. Affaire S. H. et autres c. Autrich. Disponível em: . Acesso em: 9 set. 2011.

FRANÇA. Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Affaire Odièvre c. France. 13 de fevereiro de 2003. Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2011.

FRANÇA. Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Affaire Mikulic c. Croatie.7 de fevereiro de 2002. Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2011.

HAMMERSCHMIDT, Denise. Intimidade genética e direito da personalidade. Curitiba: Juruá, 2007.

LOBO, Paulo Luiz Netto. Direito ao estado de filiação e direito à origem genética: uma distinção. CEJ, Brasília, n. 27, p. 47-56, out./dez. 2004.

LOUREIRO, João Carlos Gonçalves. O direito à identidade genética do ser humano. In: Portugal-Brasil ano 2000. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra, Coimbra: Coimbra, 1999.

______. Genética, moínhos e gigantes: Quixote revisitado – Deveres fundamentais, sociedade de risco e biomedicina. In: Derecho y genética: um reto de la sociedad del siglo XXI. Madrid, 2006.

MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. Coimbra: Coimbra, t. IV, 2008.

______; MEDEIROS, Rui. Constituição portuguesa anotada. Coimbra: Coimbra, t. I, 2005.

NERI, Demetrio. A bioética em laboratório – Células-tronco, clonagem e saúde humana. São Paulo: Loyola, 2004.

OLMOS, Paulo Eduardo. Quando a cegonha não vem: os recursos da medicina moderna para vencer a infertilidade. São Paulo: Carrenho Editorial, 2003.

OTERO, Paulo. Personalidade e identidade pessoal e genética do ser humano: um perfil constitucional da bioética. Coimbra: Almedina, 1999.

PETTERLE, Selma Rodrigues. O direito fundamental à identidade genética na Constituição brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

______. Notas sobre a fundamentação e a titularidade do direito fundamental à identidade genética na construção brasileira. In: SARLET, Ingo Wolfgang; LEITE, George Salomão (Org.). Direitos fundamentais e biotecnologia. São Paulo: Método, 2008.

PINTO, Paulo Mota. O direito ao livre desenvolvimento da personalidade. In: Portugal-Brasil ano 2000. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra, Coimbra: Coimbra, 1999.

REIS, Rafael Luís Vale e. O direito ao conhecimento das origens genéticas. Coimbra: Coimbra, 2008.

REPPOLD, Carolini Tozzi. Estilo parental percebido e adaptação psicológica de adolescentes adotados. Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do Grau de Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia, set./2001.

RIBEIRO, Diógenes V. Hassan. Proteção da privacidade. São Leopoldo: Unisinos, 2003.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 70032527533, 7ª C.Cív., Rel. André Luiz Planella Villarinho, Julgado em 09.06.2010. Disponível em: . Acesso em: 10 set. 2011.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 70035409895, 8ª C.Cív., Rel. Rui Portanova, Julgado em 10.06.2010. Disponível em: . Acesso em: 11 set. 2011.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 70040915969, 7ª C.Cív., Rel. André Luiz Planella Villarinho, Julgado em 13.07.2011. Disponível em: . Acesso em: 11 set. 2011.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.

______. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais – na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

SCHAFFER, Judith A.; DIAMOND, Ronny. Infertilidade: dor pessoal e estigma secreto. In: IMBER-BLACK, Evan (Org.). Os segredos na família e na terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

STUPPIELLO, Bruna; BATISTA JR., João; AMARO, Mariana. Ele quer reiniciar. Veja, São Paulo: Abril, Edição 2233, a. 44, n. 36, p. 96.

TOMASZEWSKI, Adauto de Almeida; LEITÃO, Manuela Nishida. Filiação socioafetiva: a posse de estado de filho como critério indicador da relação paterno-filial e o direito à origem genética. Revista Jurídica da UniFil, a. III, n. 3, 2006.

TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica – Para operadores do direito. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. Parte geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, v. 1, 2003.

Downloads

Publicado

29-06-2012

Como Citar

GARBIN, R. B. O DIREITO AO CONHECIMENTO DA ASCENDÊNCIA BIOLÓGICA. Revista da AJURIS - QUALIS A2, [S. l.], v. 39, n. 126, p. 133–186, 2012. Disponível em: https://revistadaajuris.ajuris.org.br/index.php/REVAJURIS/article/view/780. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

DOUTRINA NACIONAL
Loading...