OLIVEIRA VIANNA, AZEVEDO AMARAL E VIRGINIO SANTA ROSA: EXPOENTES DE UM PENSAMENTO AUTORITÁRIO NO BRASIL?
EXEMPLARS OF AN AUTHORITARIAN THOUGHT IN BRAZIL?
Resumo
OLIVEIRA VIANNA, AZEVEDO AMARAL, AND VIRGINIO SANTA ROSA: EXEMPLARS OF AN AUTHORITARIAN THOUGHT IN BRAZIL?
ÁREA(S): ciência política; doutrina nacional; história das ideias políticas; pensamento político brasileiro.
RESUMO: Este estudo investiga o pensamento de três influentes intelectuais brasileiros do início do século XX – Oliveira Vianna, Virgínio Santa Rosa e Azevedo Amaral –, com enfoque no período entre o início da Primeira República (1889) e o fim do Estado Novo (1945). Neste intervalo histórico, marcado por profundas transformações sociais, econômicas e políticas no Brasil, emergiram as ideias desses intelectuais que, segundo críticos como Bolivar Lamounier, Evaldo Vieira e Wanderley Guilherme dos Santos, representariam uma vertente autoritária do pensamento político brasileiro. Diante disso, este artigo visa reavaliar a precisão dessa categorização autoritária, analisando o contexto e as nuances do pensamento dos autores e explorando as suas principais obras: O idealismo da Constituição (1927), de Oliveira Vianna; O sentido do tenentismo (1933), de Santa Rosa; e O Estado autoritário e a realidade nacional (1938), de Azevedo Amaral. A análise proposta questiona se as interpretações de Lamounier, Santos e Vieira, que associam esses intelectuais ao autoritarismo, de fato compreendem as complexidades e os contextos específicos que inspiraram as ideias desses autores. A definição de autoritarismo em Lamounier, Santos e Vieira associa-se a uma oposição às ideias liberais e à defesa de um Estado forte e centralizado, frequentemente interpretado como elemento conservador ou mesmo próximo ao fascismo. Este estudo contextualiza como o autoritarismo foi caracterizado nas reflexões desses críticos e como ele se inter-relaciona com a noção de um “Estado paternalista e benevolente”, que visa à modernização nacional sob rígido controle estatal. Ao problematizar essa interpretação, destaca-se a importância de considerar elementos que diferenciam as abordagens desses pensadores das associações comuns com o fascismo ou com a mera resistência ao liberalismo. Adicionalmente, o trabalho contribui com novas perspectivas para a compreensão do pensamento político brasileiro, propondo uma análise contextual e bibliográfica que revela motivações além do autoritarismo nos ideais desses intelectuais, especialmente no que tange à necessidade de um Estado forte para o desenvolvimento nacional. A pesquisa utiliza a análise crítica e o exame comparativo de fontes primárias para argumentar que o posicionamento desses autores pode ter implicações importantes sobre a maneira como compreendemos o desenvolvimento democrático brasileiro. A reinterpretação proposta evidencia que a defesa de um Estado forte não deve, necessariamente, ser lida como oposição aos princípios democráticos, mas pode ser entendida como uma resposta às limitações institucionais e sociais da época, sugerindo que essas contribuições se enquadram em um espectro de ideias voltadas ao progresso e à modernização social. Com isso, o estudo contribui para o debate sobre os avanços democráticos no Brasil ao sugerir que a centralidade do Estado nos escritos de Vianna, Santa Rosa e Amaral não equivale a uma rejeição da democracia, mas à busca de um modelo político compatível com as realidades brasileiras. Assim, este trabalho reafirma a importância de revisitar e reavaliar o legado desses pensadores para aprofundar nossa compreensão sobre nosso pensamento político e as suas implicações para o processo democrático do País.
ABSTRACT: This study examines the thought of three influential Brazilian intellectuals from the early 20th century - Oliveira Vianna, Virgínio Santa Rosa, and Azevedo Amaral - focusing on the period from the beginning of the First Republic (1889) to the end of the Estado Novo (1945). This historical interval, marked by profound social, economic, and political transformations in Brazil, saw the emergence of these intellectuals’ ideas which, according to critics such as Bolivar Lamounier, Evaldo Vieira, and Wanderley Guilherme dos Santos, represented an authoritarian strand of Brazilian Political Thought. In this context, the article seeks to reassess the accuracy of this authoritarian categorization by analyzing the context and nuances of the authors’ thoughts and exploring their major works: O idealismo da Constituição (1927), by Oliveira Vianna; O sentido do tenentismo (1933), by Santa Rosa; and O Estado autoritário e a realidade nacional (1938), by Azevedo Amaral. The proposed analysis questions whether the interpretations of Lamounier, Santos, and Vieira, which associate these intellectuals with authoritarianism, genuinely comprehend the complexities and specific contexts that inspired these authors’ ideas. The definition of authoritarianism in the works of Lamounier, Santos, and Vieira is associated with an opposition to liberal ideas and the advocacy of a strong, centralized State, often interpreted as a conservative or even quasi-fascist element. This study contextualizes how authoritarianism was characterized in these critics’ reflections and how it interrelates with the notion of a “paternalistic and benevolent State” aiming for national modernization under strict state control. By problematizing this interpretation, the article underscores the importance of considering elements that differentiate these thinkers’ approaches from common associations with fascism or mere resistance to liberalism. Additionally, the work contributes new perspectives for understanding Brazilian Political Thought, proposing a contextual and bibliographical analysis that reveals motivations beyond authoritarianism in these intellectuals’ ideals, particularly regarding the necessity of a strong State for national development. The research employs critical analysis and comparative examination of primary sources to argue that these authors’ positioning may have significant implications for how we understand Brazilian democratic development. The proposed reinterpretation suggests that advocating for a strong State should not necessarily be seen as opposition to democratic principles but rather as a response to the institutional and social limitations of the time, indicating that these contributions fit within a spectrum of ideas oriented toward progress and social modernization. Thus, the study contributes to the debate on Brazil’s democratic advancements by suggesting that the emphasis on State centrality in the writings of Vianna, Santa Rosa, and Amaral does not equate to a rejection of democracy but represents a search for a political model compatible with Brazilian realities. This work, therefore, reaffirms the importance of revisiting and reassessing these thinkers’ legacies to deepen our understanding of our Political Thought and its implications for the coun
PALAVRAS-CHAVE: autoritarismo; Constituição de 1981; Estado Novo; oligarquias brasileiras; reforma agrária; tenentismo.
KEYWORDS: authoritarianism; Constitution of 1891; New State; brazilian oligarchies; agrarian reform; lieutenantism.
SUMÁRIO: Introdução; 1 A força social e política catalizadora de um pensamento autoritário no Brasil; 2 Pensamento autoritário brasileiro: Bolivar Lamounier, Evaldo Vieira e Wanderley Guilherme dos Santos; 3 Expoentes do pensamento autoritário no Brasil: Virgínio Santa Rosa, Azevedo Amaral e Oliveira Vianna; Considerações finais; Referências.
SUMMARY: Introduction; 1 The social and political force catalyzing authoritarian thought in Brazil; 2 Brazilian authoritarian thought: Bolivar Lamounier, Evaldo Vieira and Wanderley Guilherme dos Santos; 3 Exponents of authoritarian thought in Brazil: Virgínio Santa Rosa, Azevedo Amaral and Oliveira Vianna; Final considerations; References.
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