DO DIREITO AO ESQUECIMENTO AO DIREITO À DESINDEXAÇÃO: UMA ANÁLISE NO CONTEXTO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

DO DIREITO AO ESQUECIMENTO AO DIREITO À DESINDEXAÇÃO: UMA ANÁLISE NO CONTEXTO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Autores

Resumo

FROM THE RIGHT TO BE FORGOTTEN TO THE RIGHT TO DEINDEXATION: AN ANALYSIS IN THE CONTEXT OF THE BRAZILIAN LEGAL SYSTEM

ÁREA(S): direito civil; direito constitucional.

RESUMO: O direito ao esquecimento vem sendo adotado em vários países, como Espanha, Rússia e Colômbia, como importante ferramenta para a tutela dos direitos da personalidade e da dignidade da pessoa humana, protegendo o indivíduo da exposição de fatos constrangedores que, pelo decurso do tempo, tornaram-se irrelevantes para o público. No Brasil, a doutrina e a jurisprudência majoritárias vinham se orientando igualmente no sentido do reconhecimento de tal direito, mas o Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento em sede repercussão geral, veio a decidir em sentido contrário, indicando a ponderação de interesses como meio para a proteção da personalidade. O direito à desindexação, por sua vez, surge como alternativa para a tutela dos direitos da personalidade e da dignidade da pessoa humana, mormente porque com o direito ao esquecimento não se confunde. Diante desse panorama, utilizando-se o método hipotético-dedutivo e com base em pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, o presente estudo busca examinar o desenvolvimento do direito ao esquecimento no Brasil e no mundo, bem como verificar se a orientação fixada pelo STF ainda deixa alguma margem para a sua aplicação, e, ainda, estudar a (in)aplicabilidade do direito à desindexação no ordenamento jurídico pátrio.

ABSTRACT: The right to be forgotten has been adopted in several countries as an important tool for protecting the rights of the personality and the dignity of the human person, protecting the individuals from exposure to embarrassing facts that, over time, have become irrelevant to the public. In Brazil, the majority doctrine and jurisprudence had also been oriented towards the recognition of such a right, but the Federal Supreme Court, in judgment with general repercussion, came to decide in the opposite direction, indicating the balancing of interests as a means for the personality protection. The right to be deindexed, in turn, appears as an alternative for the protection of personality rights and the dignity of the human person, mainly because it cannot be confused with the right to be forgotten. In this scenario, the present study seeks to examine the development of the right to be forgotten in Brazil and in the world, as well as to verify if the orientation established by the STF still leaves some margin for its application, and, still, to study the (in)applicability of the right to deindexation in the national legal system.

PALAVRAS-CHAVE: direito ao esquecimento; direito à desindexação; direitos da personalidade; dignidade da pessoa humana; ponderação de interesses.

KEYWORDS: right to be forgotten; right to deindexation; personality rights; dignity of the human person; balancing of interests.

SUMÁRIO: Introdução; 1 O desenvolvimento do direito ao esquecimento no cenário internacional e no Brasil; 2 A posição do Supremo Tribunal Federal e o futuro do direito ao esquecimento no Brasil; 3 O direito à desindexação como alternativa; Considerações finais; Referências.

SUMMARY: Introduction; 1 The development of the right to be forgotten on the international scene and in Brazil; 2 The position of the Federal Supreme Court and the future of the right to be forgotten in Brazil; 3 The right to deindexation as an alternative; Final considerations; References.

Biografia do Autor

Mário Augusto Figueiredo de Lacerda Guerreiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre/RS, Brasil)

Juiz de Direito (TJRS, Porto Alegre/RS, Brasil). Auxiliar de Ministro do STF. Ex-Conselheiro do CNJ. Doutorando em Direito pela PUCRS. Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Coimbra.

Ana Luiza Liz dos Santos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre/RS, Brasil)

Doutoranda em Direito no Programa de Pós-Graduação (PUC, Porto Alegre/RS, Brasil). Assessora Jurídica em gabinete de Desembargador no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Bolsista Capes-Proex. Mestre em Direito pela FMP-RS. Especialista em Proteção de Dados: LGPD e GDPR – Curso Binacional com dupla titulação (FMP-RS e Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa). Especialista em Direito Público pela PUCRS. Especialista em Direito Civil e Processo Civil pelo IDC. Graduada em Direito pela PUCRS.

Referências

ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. 4. tir. Tradução: Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2015.

ANDRADE, F. S. A tutela dos direitos da personalidade no Direito brasileiro em perspectiva atual. Revista de Derecho Privado, Bogotá, n. 24, jan./jun. 2013. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0123-43662013000100004. Acesso em: 4 jul. 2023.

BEZERRA JUNIOR, L. M. H. Direito ao esquecimento: a justa medida entre a liberdade informativa e os direitos da personalidade. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

BOIZARD, M. Le temps, le droit à l’oubli et le droit à l’effacement. Les Cahiers de la Justice, Éditions Dalloz, n. 4, p. 619-628, 2016. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-les-cahiers-de-la-justice-2016-4-page-619.htm. Acesso em: 3 jul. 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.334.097, 4ª Turma, Relator Ministro Luís Felipe Salomão, DJe 10.09.2013.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.335.153, 4ª Turma, Relator Ministro Luís Felipe Salomão, DJe 10.09.2013.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.660.168, 3ª Turma, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Redator do Acórdão: Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe 05.06.2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.815, Pleno, Relatora Ministra Cármen Lúcia, DJe 01.02.2016.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 130, Pleno, Relator Ministro Ayres Britto, DJe 26.02.2010.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação nº 22.328, 1ª Turma, Relator Ministro Roberto Barroso, DJe 10.05.2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 1.010.606, Pleno, Relator Ministro Dias Toffoli, DJe 20.05.2021.

BUNDESVERFASSUNGSGERICHT. BVerfGE 35, 202. 1973. Disponível em: https://www.servat.unibe.ch/dfr/bv035202.html#. Acesso em: 18 ago. 2023.

CEPEDA, M. E. O. Derecho al olvido. Libertad de expresión e información. Revista Latinoamericana de Derechos Humanos, v. 33 (2), p. 17-45, 2022. Disponível em: https://www.revistas.una.ac.cr/index.php/derechoshumanos/article/view/16944. Acesso em: 4 jul. 2023.

CHUB, E. S. The right to be forgotten: A new human right? Digital Law Journal, 3(4), p. 89-106 (original em alfabeto cirílico: Чуб, Е. С. Право на забвение: новое право человека? Цифровое право, 3(4), 89-106, 2022), 2022. Disponível em: https://www.digitallawjournal.org/jour/article/download/122/85. Acesso em: 4 jul. 2023.

COLOMBIA. Sentencia T-277/15, 12 Mayo 2015. Corte Constitucional Republica de Colombia. Disponível em: https://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2015/T-277-15.htm. Acesso em: 2 ago. 2023.

EHRHARDT JR., M.; MATTA, G. L. da. LGPD e o direito ao esquecimento no cenário da proteção de dados pessoais no direito brasileiro. Liberdade de expressão e relações privadas. Coordenação: Marcos Ehrhardt Júnior, Fabíola Albuquerque Lobo e Gustavo Andrade. Belo Horizonte: Fórum, 2021.

EMRE AY, Y. Right to be forgotten in European Union and the US. Law Review, 2(24), p. 20-33, 2022. Disponível em: https://ejournals.vdu.lt/index.php/LawReview/article/view/3382/2018. Acesso em: 4 jul. 2023.

FACCHINI NETO, E. Direito ao esquecimento e seu encontro com o direito à identidade: o que resta após o RE 1.010.606/RJ? Direitos fundamentais, dignidade e constituição: estudos em homenagem a Ingo Wolfgang Sarlet. Organização: Walter Claudius Rothenburg. Londrina: Thoth, v. 1, 2021.

FRANÇA. Conselho de Estado. Droit à l’oubli: le Conseil d’État donne le mode d’emploi. Disponível em: https://www.conseil-etat.fr/actualites/droit-a-l-oubli-le-conseil-d-etat-donne-le-mode-d-emploi#anchor1. Acesso em: 4 jul. 2023.

IFLA. International Federation of Library Associations and Institutions. IFLA Statement on the Right to be Forgotten. Disponível em: https://www.ifla.org/publications/ifla-statement-on-the-right-to-be-forgotten-2016/. Acesso em: 4 jul. 2023.

LEONARDI, M. Tutela e privacidade na Internet. São Paulo: Saraiva, 2012.

LIMA, C. R. de. O direito à desindexação em uma perspectiva civil-constitucional. In: SARLET, G. B. S.; TRINDADE, M. G. N.; MELGARÉ, P. (coord.). Proteção de dados: temas controvertidos. Indaiatuba: Foco, 2021.

MALDONADO, V. N. Direito ao esquecimento. São Paulo: Novo Século, 2017.

MARKS, J. Melvin v. Reid. 112 Cal.App., n. 285, p. 91, 1931. Disponível em: https://casetext.com/case/melvin-v-reid. Acesso em: 18 ago. 2023.

OLIVEIRA, C. C. de. Eliminação, desindexação e esquecimento na Internet. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020.

PEW RESEARCH CENTER. Most Americans support right to have some personal info removed from online searches. Disponível em: https://www.pewresearch.org/fact-tank/2020/01/27/most-americans-support-right-to-have-some-personal-info-removed-from-online-searches/. Acesso em: 4 jul. 2023.

POTEPKO, N. I. Right to be Forgotten: IFLA Statement and Background Information. Bibliotekovedenie [Russian Journal of Library Science], 2016, 65(3), p. 315-322 (original em alfabeto cirílico: Потепко, Надежда Игоревна. Право на забвение: заявление ИФЛА и предыстория вопроса. Библиотековедение, 2016, Т. 65, № 3, С. 315-322). Disponível em: https://bibliotekovedenie.rsl.ru/jour/article/view/357/61. Acesso em: 4 jul. 2023.

RODOTÀ, S. Il diritto di avere diritti. 10. ed. Roma: Laterza, 2012.

RODRIGUES JR., O. L. Esquecimento de um direito ou o preço da coerência retrospectiva? (Parte 1), 21 mar. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-fev-25/direito-comparado-esquecimento-direito-ou-preco-coerencia-retrospectiva-parte. Acesso em: 4 jul. 2023.

SANTOS, A. L. L. dos. Direito à desindexação: uma análise à luz da efetivação dos direitos fundamentais de personalidade. São Paulo: Dialética, 2022.

SARLET, I. W. Notas acerca do assim chamado direito ao esquecimento na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça brasileiro. Internet e regulação. Coordenação: Laura Schertel Mendes, Sérgio Garcia Alves e Danilo Doneda. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

SARLET, I. W. O direito ao esquecimento segue lembrado, ao menos na União Europeia. Consultor Jurídico – ConJur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2023-jan-27/direitos-fundamentais-direito-esquecimento-segue-lembrado-ue2. Acesso em: 2 ago. 2023.

SARLET, I. W.; FERREIRA NETO, A. M. O direito ao “esquecimento” na sociedade da informação. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019.

SARMENTO, D. Liberdades comunicativas e “direito ao esquecimento” na ordem constitucional brasileira. Revista Brasileira de Direito Civil, 7(01), p. 190-232, 2017. Disponível em: https://rbdcivil.ibdcivil.org.br/rbdc/article/view/76/70. Acesso em: 4 jul. 2023.

SCHIAVI, Pablo. El derecho al olvido y a la protección de datos personales en Uruguay. Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 17, n. 69, p. 55-76, jul./set. 2017. Disponível em: http://www.revistaaec.com/index.php/revistaaec/article/view/813/676. Acesso em: 4 jul. 2023.

SCHREIBER, A. Limites à liberdade de expressão: qual a posição do Supremo Tribunal Federal? Direitos fundamentais e sociedade tecnológica. Coordenação: Anderson Schreiber, Guilherme Magalhães Martins e Heloisa Carpena. Indaiatuba: Foco, 2022.

SILVA, J. A. da. Teoria do conhecimento constitucional. São Paulo: Malheiros, 2014.

SINGER, R.; BECK, B. O “direito ao esquecimento” na Internet: significado, efeitos e avaliação da “sentença Google” do Tribunal Europeu de 13 de maio de 2014. Direitos Fundamentais & Justiça, Belo Horizonte, ano 12, n. 39, p. 19-46, jul./dez. 2018. Disponível em: https://dfj.emnuvens.com.br/dfj/article/download/671/897/2757. Acesso em: 4 jul. 2023.

TEPEDINO, G.; MEDON, F. A superexposição de crianças por seus pais na Internet e o direito ao esquecimento. Proteção de dados: temas controvertidos. Coordenação: Gabrielle Bezerra Sales Sarlet, Manoel Gustavo Neubarth Trindade e Plínio Melgaré. Indaiatuba: Foco, 2021.

UNIÃO EUROPEIA. Parlamento Europeu e Conselho. Regulamento (UE) nº 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de abril de 2016, relativo à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados e que revoga a Diretiva nº 95/46/CE (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados). Disponível em: http://data.europa.eu/eli/reg/2016/679/oj. Acesso em: 4 jul. 2023.

UNIÃO EUROPEIA. Tribunal de Justiça da União Europeia. Acórdão da Grande Seção nº C-131/12, Julgado em 13.05.2014. Caso Google v. Agência Espanhola de Proteção de Dados e Mário Costeja González. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A62012CJ0131. Acesso em: 4 jul. 2023.

UNIÃO EUROPEIA. Tribunal de Justiça da União Europeia. Acórdão da Grande Seção nº C-460/20, Julgado em 08.12.2022. Disponível em: https://curia.europa.eu/juris/document/document.jsf?text=&docid=268429&pageIndex=0&doclang=pt&mode=lst&dir=&occ=first&part=1&cid=2244964. Acesso em: 24 ago. 2023.

VOSS, W. G.; CASTETS-RENARD, C. Proposal for na International Taxonomy on the Various Forms of the “Right to be Forgotten”: a study on the convergence of norms. Colorado Technology Law Journal, v. 14.2, p. 281-344, 2016.

XAVIER, J. T. N. A problemática do direito ao esquecimento no Direito brasileiro. Tese de Pós-Doutorado. Santiago de Compostela (ES): Universidade de Santiago de Compostela, 2018.

Downloads

Publicado

09-09-2024

Como Citar

GUERREIRO, M. A. F. de L.; SANTOS, A. L. L. dos. DO DIREITO AO ESQUECIMENTO AO DIREITO À DESINDEXAÇÃO: UMA ANÁLISE NO CONTEXTO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Revista da AJURIS - QUALIS A2, [S. l.], v. 51, n. 156, p. 379–402, 2024. Disponível em: https://revistadaajuris.ajuris.org.br/index.php/REVAJURIS/article/view/1425. Acesso em: 11 set. 2024.

Edição

Seção

DOUTRINA NACIONAL
Loading...