SOBRE A RECUSA DE TRATAMENTO MÉDICO EM RAZÃO DA FILIAÇÃO POLÍTICA OU IDEOLÓGICA DO PACIENTE
Resumo
ON THE REFUSAL OF MEDICAL TREATMENT DUE TO THE PATIENT'S POLITICAL OR IDEOLOGICAL AFFILIATION
ÁREA(S): Bioética; direito constitucional; direitos humanos; direito da antidiscriminação.
RESUMO: O artigo tem como tema uma situação ocorrida em 2016, quando a filiação política foi considerada um fundamento legítimo para a recusa da continuidade de atendimento na área da saúde. A partir desse episódio, discutem-se questões legais e éticas envolvidas em situações em que há recusa de atendimento de paciente na seara médica por razões de convicção ideológica ou de filiação política. O artigo demonstra que a recusa ou a interrupção por estes motivos constitui discriminação e é proibida por tratados internacionais de direitos humanos, pela Constituição da República Federativa do Brasil e pelo Código de Ética Médica, visto que não há um direito subjetivo de interromper o tratamento ou de alegar objeção de consciência quando a recusa caracteriza discriminação. A legislação brasileira e as declarações internacionais de direitos humanos tomam a discriminação como um limite absoluto ao exercício da autonomia do profissional da saúde.
ABSTRACT: The paper has as its theme a situation that occurred in 2016, when political affiliation was considered a legitimate ground for the refusal of continuity of care in the health area. From this episode on, legal and ethical issues involved in situations in which there is a refusal of patient care in the medical field for reasons of ideological conviction or political affiliation are discussed. The article demonstrates that refusal or interruption for these reasons constitutes discrimination and is prohibited by international human rights treaties, the Constitution of the Federative Republic of Brazil and the Code of Medical Ethics, since there is no subjective right to interrupt treatment or to plead conscientious objection when the refusal characterizes discrimination. Brazilian legislation and international declarations of human rights take discrimination as an absolute limit to the exercise of the health professional’s autonomy.
PALAVRAS-CHAVE: Bioética; direitos humanos; ética médica; discriminação por filiação política e/ou ideológica; objeção de consciência.
KEYWORDS: Bioethics; human rights; medical ethics; discrimination by political and/or ideological affiliation; conscientious objection.
SUMÁRIO: Introdução; 1 As vedações do ordenamento jurídico às diversas formas de discriminação; 2 As vedações de discriminação no Código de Ética Médica; 3 O direito à objeção de consciência não deve ser usado para discriminar; 4 As recusas de tratar permitidas pelo Código de Ética Médica não autorizam atos de discriminação; Conclusão: intersecções entre o direito à antidiscriminação e a ética médica; Referências.
SUMMARY: Introduction; 1 Prohibitions of the legal system to the different forms of discrimination; 2 Prohibition of discrimination According to the Medical Code of Ethics; 3 The right to conscientious objection must be not used to discriminate; 4 Refusals to treat permitted in the Code of Medical Ethics do not authorize acts of discrimination; Conclusion: intersections between the right to anti-discrimination and Medical Ethics; References.
Referências
DINIZ, Débora. Objeção de consciência e aborto: direitos e deveres dos médicos na saúde pública. Rev. Saúde Pública [on-line], v. 45, n. 5, p. 981-985, 2011. Disponível: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102011000500021&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 abr. 2016.
GULARTE, Jeniffer. “Ela tem que se orgulhar”, diz presidente do Simers sobre pediatra que negou atendimento a filho de vereadora. Diário Gaúcho, 30 mar. 2016. Disponível em: <http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2016/03/ela-tem-que-se-orgulhar-disso-diz-presidente-do-simers-sobre-pediatra-que-negou-atendimento-a-filho-de-vereadora-5612654.html>. Acesso em: 28 jan. 2017.
______. Cremers arquiva sindicância de médica que negou atendimento a filho de petista. Diário Gaúcho, 6 jun. 2016. Disponível em: <http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2016/10/cremers-arquiva-sindicancia-de-medica-que-negou-atendimento-a-filho-de-petista-7692644.html>. Acesso em: 28 jan. 2017.
LIMA, Firmino Alves. Teoria da discriminação nas relações de trabalho. Campus jurídico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
MESTRE, Bruno. Discrimination by association: protected by EC Law but limiting the scope of Mangold. European Law Reporter, p. 304-305, 2008.
MOREIRA, Teresa Coelho. A discriminação dos trabalhadores em razão da deficiência na jurisprudência do TJUE: breve análise dos casos Chacón Navas, Jette Ring, Z. e Coleman. R. Dir. Gar. Fund., Vitória, v. 15, n. 2, p. 265-294, jul./dez. 2014.
RIOS, Roger Raupp. Direito da antidiscriminação: discriminação direta, indireta e ações afirmativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.
ROSHELLI, Kristin M. Religiously Based Discrimination: Striking a Balance between a Health Care Provider’s Right to Religious Freedom and a Woman’s Ability to Access Fertility Treatment without Facing Discrimination. St. John’s Law Review 83, n. 3, 2012.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado simultaneamente sob uma Licença Creative Commons Attribution [6 meses] após a publicação, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) somente seis meses após a efetiva publicação na Revista, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).