O IMAGINÁRIO PUNITIVO NAS AVENTURAS DA MODERNIDADE: A GENEALOGIA DO PENSAMENTO CRIMINOLÓGICO ENTRE REGULAÇÃO (PODER SOBERANO) E EMANCIPAÇÃO (VIDA DIGNA)
Resumo
THE PUNISHING IMAGINARY IN MODERN TIMES ADVENTURE: THE GENEALOGY OF CRIMINOLOGICAL THINKING BETWEEN REGULATION (SOVEREIGN POWER) AND EMANCIPATION (LIFE OF DIGNITY)
RESUMO: O trabalho busca enfrentar a seguinte indagação central: por quais razões e de que maneira a criminologia, enquanto ciência que emerge na modernidade capitalista, estabelece primordialmente um conjunto de discursos e práticas punitivas destinado a garantir a ordem social instituída, que tem por objetivo político banir o conflito e as forças instituintes do mundo social e histórico e, por conseguinte, eliminar a própria ideia moderna de dignidade humana?
PALAVRAS-CHAVE: Criminologia; modernidade; dignidade humana.
ABSTRACT: The main question of this study is: why and how does Criminology, as a science that emerges from capitalist modern times, establish primarily an amount of punishing practices and discourses focused to guarantee social order, which has as political aim to ban the conflict, the emerging forces of the social and historical world and, consequently, eliminate the modern idea of human dignity?
KEYWORDS: Criminology; modern times; human dignity.
SUMÁRIO: Introdução; 1 A genealogia do imaginário punitivo (ou campo penal) moderno: o pensamento criminológico, as cenas e os rituais de “uma violência meticulosamente repetida”; 2 A instituição do imaginário punitivo da modernidade: a escola clássica e as tensões entre a emancipação da tradição medieval e a regulação das relações capitalistas nascentes; 3 A escola positiva e o paradigma punitivo do Estado-providência: o “welfarismo penal”; Considerações finais; Referências.
SUMMARY: Introduction; 1 The genealogy of the modern punishing imaginary (or penal field): the criminological thinking, the scenes and rituals of “a carefully repetitive violence”; 2 The institution of the modern punishing imaginary: the Classic School and the tension between the emancipation of medieval tradition and the regulation of the growing capitalist relations; 3 The Positivist School and the punishing paradigm of the Providence-State: the “penal welfarism”; Final considerations; References.
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