ANTIDISCRIMINAÇÃO E SEXISMO NO PODER JUDICIÁRIO: FUNDAMENTAÇÃO E NECESSIDADE DO JULGAR COM PERSPECTIVA DE GÊNERO

ANTIDISCRIMINAÇÃO E SEXISMO NO PODER JUDICIÁRIO: FUNDAMENTAÇÃO E NECESSIDADE DO JULGAR COM PERSPECTIVA DE GÊNERO

Autores

Resumo

ANTI-DISCRIMINATION AND SEXISM IN THE JUDICIAL BRANCH: THE NEED OF JUSTICE IN A GENDER PERSPECTIVE

ÁREA(S): antidiscriminação; gênero; Poder Judiciário.

RESUMO: Ao tratar do julgamento com perspectiva de gênero como concretização da proibição de discriminação por motivo de gênero e do direito humano e fundamental do acesso à justiça, este artigo objetiva contribuir com o aperfeiçoamento da atuação judicial diante de casos concretos e do sistema de justiça institucionalmente considerado. Por meio de revisão bibliográfica, de caráter exploratório, cuida, na primeira parte, do conteúdo e do desenvolvimento do direito de igualdade e seu mandamento antidiscriminatório, em concordância prática com o acesso à justiça, salientando desafios enfrentados nesse desenvolvimento; na segunda parte, partindo de estudos e protocolos de julgamento com perspectiva de gênero construídos na América Latina (o “Modelo de Protocolo Latino-Americano”, o protocolo mexicano “Julgar com Perspectiva de Gênero” e o “Projeto de Estudo Diagnóstico da perspectiva de igualdade de gênero no Poder Judiciário” chileno), examina a necessidade de dimensionar, com seriedade e abertura, o desafio da cultura institucional sexista, da correta compreensão do julgar com perspectiva de gênero e as tarefas institucionais correspondentes.

ABSTRACT: This article examines the judgment with gender perspective as implementation of the gender discrimination prohibition, as well as implementation of the human right to access to justice. It aims to contribute to the judicial work on deciding singular cases, as well as the justice system as a whole. The methodology in this article includes a qualitative bibliographic review and an inventory of protocols of judgment with gender perspective in Latin America (the “Latin America Protocol Model”, the Mexican Protocol “Judging with a Gender Perspective” and the “Diagnostic Study Project from the perspective of gender equality in the Chilean Judicial Branch”), concerned with to overcome challenges related to the pervasive sexist institutional judicial culture.

PALAVRAS-CHAVE: julgamento com perspectiva de gênero; antidiscriminação; Poder Judiciário; sexismo; proibição de discriminação por gênero.

KEYWORDS: judgment with gender perspective; anti-discrimination; Judicial Branch; sexism; gender discrimination prohibition.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Igualdade e proibição de discriminação por sexo: conteúdo e desenvolvimento; 2 Proibição de discriminação por sexo e necessidade e função dos protocolos de julgamento com perspectiva de gênero; Considerações finais; Referências.

SUMMARY: Introduction; 1 Equality and sex discrimination prohibition: content and development; 2 The sex discrimination prohibition and the need and the function of protocols of judgment with gender perspective; Final considerations; References.

Biografia do Autor

Roger Raupp Rios, Unisinos, Porto Alegre/RS, Brasil

Professor do PPGD (Unisinos, Porto Alegre/RS, Brasil). Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Paris. Professor do PPG Mestrado Profissional ENFAM. Desembargador Federal do TRF4.

Adriana Ramos de Mello, ENFAM, Brasília/DF, Brasil

Professora do Mestrado Profissional (ENFAM, Brasília/DF, Brasil). Doutora em Direito Público e Filosofia Jurídico-política pela Universidade Autônoma de Barcelona. Juíza de Direito do TJRJ.

Referências

ALMEIDA, A. de M. M. de; PANDJARJIAN, V.; IZUMINO, W. P. Os estereótipos de gênero nos processos judiciais e a violência contra a mulher na legislação. Advocacia pro bono em defesa da mulher vítima de violência. Campinas: São Paulo, Unicamp/Imprensa Oficial do Estado, p. 75-106, 2002. Disponível em: https://nev.prp.usp.br/publicacao/os-esteretipos-de-gnero-nos-processos-judiciais-e-a-violncia-contra-a-mulher-na-legislao/. Acesso em: 8 dez. 2020.

ÁVILA, A. P. O.; RIOS, R. R. Mutação constitucional e proibição de discriminação por motivo de sexo. Revista Direito e Práxis, [s.l.], v. 7, n. 1, p. 21-47, mar. 2016. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/17987. Acesso em: 10 abr. 2020.

BANCO MUNDIAL. O combate à violência contra a mulher (VCM) no Brasil em época de Covid-19. Disponível em: http://documents1.worldbank.org/curated/en/807641597919037665/pdf/Addressing-Violence-against-Women-VAW-under-COVID-19-in-Brazil.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020.

BORRILLO, D. Homofobia: história e crítica de um conceito. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132. Plenário. Relator Ministro Ayres Britto. Brasília, 5 de maio de 2011. Diário da Justiça Eletrônico, 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26. Plenário. Relator Ministro Celso de Mello. Brasília, 14 de junho de 2019. Diário da Justiça Eletrônico, 2019.

BRASIL. Decreto nº 1.973, de 1º de agosto de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/d1973.htm. Acesso em: 20 nov. 2020.

BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 20 nov. 2020.

BUENO, S.; LIMA, R. S. de. (coord.). Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. 2. ed. São Paulo: Instituto Datafolha, 2019. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/proc-publicacoes/relatorio-vitimizacao-de-mulheres-no-brasil-2deg-edicao. Acesso em: 20 nov. 2020.

CHILE. Poder Judicial. Dirección de Estudios Corte Suprema. Management & Research Chile. Igualdad de género y non discriminación: proyecto de estudio diagnóstico de la perspectiva de igualdad de género en el Poder Judicial chileno. Santiago, 2016. Disponível em: http://secretariadegenero.pjud.cl/images/documentos/Estudio_Igualdad_de_G__nero_y_No_Discriminaci__n_Final.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020.

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Relatório anual 2000: Relatório nº 54/01. Caso 12.051 Maria da Penha Maia Fernandes. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm. Acesso em: 29 nov. 2020.

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Acceso a la justicia para las mujeres víctimas de violencia en las Américas. OEA/Ser.L/V/II Doc. 68. Washington, 2007. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/women/acceso07/indiceacceso.htm. Acesso em: 8 dez. 2020.

COMITÊ SOBRE A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS MULHERES. NAÇÕES UNIDAS. Recomendação Geral nº 33 sobre o acesso das mulheres à justiça. CEDAW/C/GC/33, 2015. Disponível em: https://assets-compromissoeatitude-ipg.sfo2.digitaloceanspaces.com/2016/02/Recomendacao-Geral-n33-Comite-CEDAW.pdf. Acesso em: 13 dez. 2020.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. O Poder Judiciário no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra as mulheres. Brasília: CNJ. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/190830_rel_poder_judic_no_enfren_a_viol_domest_familiar_contra_as_mulheres_sumario_executivo.pdf. Acesso em: 29 nov. 2020.

CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, v. 10, n. 1, p. 171-188, jan./jun. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-026X2002000100011&lng=es&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 20 nov. 2020.

DINIZ, D. Estereótipos de gênero nas cortes internacionais – Um desafio à igualdade: entrevista com Rebecca Cook. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 19, n. 2, p. 451-462, ago. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2011000200008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 20 nov. 2020.

ESCRITÓRIO REGIONAL para a América Central do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OACNUDH). Escritório Regional para as Américas e o Caribe da Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres). Modelo de protocolo latino-americano de investigação das mortes violentas de mulheres por razões de gênero (femicídio/feminicídio). Brasil, 2014. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/05/protocolo_feminicidio_publicacao.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020.

FACIO, A. Metodologías para el análisis de género del fenómeno legal. In.: SANTAMARÍA, R. A.; SALGADO, J.; VALLADARES, L. (comp.). El género en el derecho. Ensayos críticos. Equador: Ministério de Justicia y Derechos Humanos, 2009.

FREDMAN, S. Discrimination law. Oxford: Oxford University Press, 2002.

GALTUNG, J. Violence, peace and peace research. Organicom, a. 15, n. 28, p. 33-55, 1 sem. 2018.

HENN, E. V. International Human Rights Law and Structural Discrimination: the example of violence against women. Berlin: Springer, 2018.

HESSE, K. A força normativa da Constituição. Tradução: Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991.

HILL COLLINS, P. The tie that binds: race, gender and US violence. Ethnic and Racial Studies, n. 5, v. 21, set. 1998.

MENDES, W. G.; SILVA, C. M. F. P. da. Homicídios da população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou transgêneros (LGBT) no Brasil: uma análise espacial. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 5, p. 1709-1722, maio 2020. Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/homicidios-da-populacao-de-lesbicas-gays-bissexuais-travestis-transexuais-ou-transgeneros-lgbt-no-brasil-uma-analise-espacial/17498?id=17498. Acesso em: 8 dez. 2020.

MÉXICO. Suprema Corte de Justicia de la Nación. Protocolo para Juzgar con Perspectiva de Género: haciendo realidad el derecho a la igualdad. Distrito Federal, 2013. Disponível em: http://archivos.diputados.gob.mx/Comisiones_LXII/Igualdad_Genero/PROTOCOLO.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020.

NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral. 1948. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/udhr/documents/udhr_translations/por.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020.

ONU MUJERES. El progreso de las mujeres en el mundo: en busca de la Justicia. Nova York, 2011. Disponível em: https://mexico.unwomen.org/es/digiteca/publicaciones/2011/7/el-progreso-de-las-mujeres-en-el-mundo. Acesso em: 8 dez. 2020.

RIOS, R. R. Discriminação por orientação sexual e igualdade processual. Revista Ibero-Americana de Ciências Penais, Porto Alegre, n. 1, 2000.

RIOS, R. R. Direito da antidiscriminação: discriminação direta, indireta e ações afirmativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

RIOS, R. R. O direito da antidiscriminação e a tensão entre o direito à diferença e o direito geral de igualdade. Revista Brasileira de Direitos Fundamentais & Justiça, v. 6, n. 18, p. 169-177, 30 mar. 2012. Disponível em: http://dfj.emnuvens.com.br/dfj/article/view/333. Acesso em: 8 dez. 2020.

RIOS, R. R.; MELLO, L. E. de. Criminalização da homotransfobia no Supremo Tribunal Federal (ADO 26): do “racismo social” à discriminação sexista. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: RT, v. 169, n. 28, jul. 2020, p. 321-345. Disponível em: https://ibccrim.org.br/noticias/exibir/513. Acesso em: 8 dez. 2020.

RIOS, R. R.; RESADORI, A. H.; LEIVAS, P. G. C.; SCHAFER, G. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos e a discriminação contra pessoas LGBTTI: panorama, potencialidade e limites. Revista Direito e Práxis, v. 8, p. 1545-1576, 2017. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/28033. Acesso em: 8 dez. 2020.

RIOS, R. R.; RESADORI, A. H. Gênero e seus/suas detratores/as: “ideologia de gênero” e violações de direitos humanos. Rev. Psicol. Polít.., São Paulo, v. 18, n. 43, p. 622-636, dez. 2018. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2018000300012&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 8 dez. 2020.

ROMIO, J. A. F. A vitimização de mulheres por agressão física, segundo raça/cor no Brasil. In: MARCONDES, M. M.; PINHEIRO, L.; QUEIROZ, C.; QUERINO, A. C.; VALVERDE, D. Dossiê mulheres negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil. Brasília: Ipea, p. 133-158, 2013. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9161/1/Dossie_Cap5.pdf. Acesso em: 20 nov. 2020.

SADEK, M. T. A. Acesso à justiça: um direito e seus obstáculos. Revista USP, [s.l.], n. 101, p. 55-66, 2014. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/87814. Acesso em: 8 dez. 2020.

SANTOS, B. de S. Para uma revolução democrática da justiça. São Paulo: Cortez, 2011.

SENADO FEDERAL. Procuradoria Especial da Mulher. CIDH condena feminicídios no Brasil. Brasília: Senado Federal. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/comum/cidh-condena-feminicidios-no-brasil. Acesso em: 20 nov. 2020.

SEVERI, F. C. Justiça em uma perspectiva de gênero: elementos teóricos, normativos e metodológicos. Revista Digital de Direito Administrativo, [s.l.], v. 3, n. 3, p. 574-601, 2016. DOI: 10.11606/issn.2319-0558.v3i3p574-601. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rdda/article/view/119320. Acesso em: 9 dez. 2020.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Projeto Violeta. Rio de Janeiro: TJRJ. Disponível em: http://www.tjrj.jus.br/web/guest/observatorio-judicial-violencia-mulher/projeto-violeta. Acesso em: 20 nov. 2020.

VARGAS, R. A. Acceso a la justicia para las mujeres... el laberinto androcéntrico del derecho. Revista IIDH, n. 53, p. 35-62, 2011. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/tablas/r26673.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020.

Publicado

2023-05-23

Como Citar

RIOS, R. R.; MELLO, A. R. de. ANTIDISCRIMINAÇÃO E SEXISMO NO PODER JUDICIÁRIO: FUNDAMENTAÇÃO E NECESSIDADE DO JULGAR COM PERSPECTIVA DE GÊNERO. Revista da AJURIS - QUALIS A2, [S. l.], v. 49, n. 153, p. 391–414, 2023. Disponível em: http://revistadaajuris.ajuris.org.br/index.php/REVAJURIS/article/view/1247. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

DOUTRINA NACIONAL
Loading...